Menos de um ano depois de provocar uma verdadeira caça aos extintores de incêndio ABC e inflacionar o mercado de venda do modelo em todo o país, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) voltou atrás, nesta quinta-feira, e decidiu que o uso do dispositivo será opcional em carros de passeio, caminhonetes, camionetas e triciclos de cabine fechadas. Assim, a falta do equipamento não mais será considerada infração nem resultará em multa. O fim da obrigatoriedade começará a valer com a publicação da resolução, o que deverá ocorrer nos próximos dias, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Diante do mercado superaquecido e do medo dos motoristas de receberem multas ou terem seus veículos reprovados na vistoria anual do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) por falta de equipamento adequado, o empresário Milton Garcia, de 47 anos, investiu R$ 1 milhão numa fábrica de extintores, em Realengo, na Zona Oeste. Agora, vê seu negócio virar pó:
— Foi toda uma vida de sacrifício. Vendi imóvel e fiz dívidas. Tenho 60 funcionários. Essa notícia caiu como uma bomba. Os clientes (lojistas) começaram a ligar querendo cancelar os pedidos. Mas ainda acredito que vão reconsiderar (os cancelamentos).
A fábrica Exil Extintores vendia cerca de mil equipamentos por dia a lojas de autopeças e postos de gasolina de Rio, São Paulo e Minas Gerais. Um dos clientes era a Lancelotti, na Estrada Intendente Magalhães, no Campinho, que nesta quinta-feira recebeu um lote de 50 extintores, duas horas antes de o dono receber a informação de Brasília sobre a suspensão da obrigatoriedade.
Marcelo Hacker, funcionário da fábrica em Realengo, está com o emprego ameaçado Foto: urbano Erbiste |
— Eu estava pensando em encomendar mais hoje (quinta-feira), porque estava perto de acabar o último prazo dado para a adequação à norma, que era 1º de outubro. Minha sorte é que o fornecedor não atendeu à ligação. Hoje, tenho 70 extintores em estoque, mas e o cliente que gastou dinheiro? Teve gente multada (por falta de extintor adequado) — disse Nicolas Lancellotti.
Prazos foram prorrogados
O professor Marcos Lopes Lima, de 54 anos, procurou o extintor ABC por quase dois meses e, quando o encontrou, teve que pagar R$ 120. Somente assim poderia fazer a vistoria do carro.
— Foi a mesma coisa com o kit de primeiros socorros. O Brasil não é um país sério — disse.
A exigência do modelo começaria a valer em 1º de janeiro de 2015, o que gerou correria às lojas no fim de 2014. Mas houve três prorrogações de prazo, por falta de extintores à vendas.
Em nota, o Contran justificou que o uso do equipamento sem preparo representa mais risco ao motorista do que o incêndio em si e citou a baixa incidência de casos entre o volume total de acidentes, além do número menor ainda de pessoas que usaram o dispositivo. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), de dois milhões de sinistros em carros com seguro, 800 foram causados por incêndios, e só 24 motoristas usaram extintores (3%).
Até então, uma infração grave
Desde 1970, rodar com veículos sem o extintor de incêndio ou com ele vencido ou inadequado era considerado uma infração grave, com aplicação de multa de R$ 127,69, além da perda de cinco pontos na carteira de habilitação. Agora, a utilização, neste caso, será apenas opcional. No entanto, o uso do equipamento do tipo ABC continuará sendo exigido para o transporte de passageiros (táxis e vans), além de caminhões, tratores, micro-ônibus, ônibus e veículos destinados a carregar produtos inflamáveis.
O simulador de direção das autoescolas também é outro assunto polêmico. Em 2012, o Contran determinou a obrigatoriedade de instalação dos equipamentos para o treinamento dos alunos. A novidade deveria ter entrado em vigor em dezembro de 2013, mas foi adiada. No ano passado, o prazo foi prorrogado e, em junho de 2014, o órgão decidiu que o aparelho seria opcional. Em julho deste ano, o Contran voltou atrás outra vez e anunciou que o simulador será obrigatório, agora a partir de 31 de dezembro deste ano.
Segundo as novas regras, os futuros condutores precisarão passar por 25 horas de aulas práticas nas autoescolas: 20 delas no carro, sendo quatro à noite, e cinco no simulador, uma delas no modo noturno.
Kit de primeiros socorros sumiu
A polêmica sobre o tipo de extintor de incêndio nos veículos também lembra outra medida que onerou os bolsos dos motoristas de todo o país. Em 1999, entrou em vigor uma a lei que tornava obrigatória a presença de um kit de primeiros socorros nos veículos. Quatro meses depois, a decisão foi anulada.
No material exigido para compor o estojo, havia: dois rolos de ataduras, um rolo pequeno de esparadrapo, dois pacotes de gazes, uma bandagem de tecido de algodão, dois pares de luvas e uma tesoura. A ausência do kit no carro implicava o pagamento de multa de R$ 117,24, além da perda de cinco pontos na carteira de habilitação.
Fonte: Extra/O Globo
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