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É DO BRASIL!!!: Ex-companheiro de Isaquias Queiroz, Edvaldo é motorista de ônibus após largar a canoagem.

Ex-atleta da canoagem Edvaldo Santos agora é motorista de ônibus Foto: Fernando Lemos / O Globo


A pequena Ubaitaba, na Bahia, é um celeiro de canoístas. Foi lá que surgiu o medalhista olímpico Isaquias Queiroz e onde nasceu Edvaldo Santos. Desconhecido do público, o ex-atleta de 35 anos foi companheiro do jovem, serviu à seleção brasileira e conquistou a prata no Sul-Americano de 2008. Sem patrocínio, ele desistiu do esporte, se mudou para o Rio de Janeiro e trabalha há quase três anos como motorista na Baixada Fluminense.

Quem entra na linha 714 — Ponto Chic, em Nova Iguaçu, até Barro Vermelho, em Belford Roxo — nem imagina que no volante tem um ex-atleta de ponta.

Edvaldo Santos faz a linha entre Nova Iguaçu e Belford Roxo
Foto: Fernando Lemos / O Globo
— Eu vim para ser motorista de ônibus e esconder a minha identidade. Desisti por falta de patrocínio — diz o baiano, que cresceu sem pai numa família de sete filhos.

O trabalho de motorista é desgastante, ainda mais por ter dupla função: dirigir e cobrar a passagem. A carga horária é de sete horas, mas pode chegar a nove. Fora a pressão por carregar vidas, evitar acidentes e dar o troco certo.

Edvaldo Santos com o único uniforme que guardou
Foto: Fernando Lemos / O Globo
— É um sistema desgastante ser motorista e cobrador. Cansativo e vulnerável a acidentes. Nunca sofri nenhum, graças a Deus. Mas já fui assaltado à mão armada, de pistola na cabeça. Quase larguei o emprego — diz. — A minha tranquilidade ajuda. Aprendi no esporte.

Edvaldo começou na canoagem aos 19 anos, mas abandonou em 2011. Não conseguia sustentar a mulher, Cida, doméstica, e as duas filhas, Tainá, de 11 anos, e Eloá, de 4, com uma bolsa atleta de R$ 926 mensais.

— Um atleta que tem família não pode viver com uma bolsa tão baixa. Há valores maiores, mas é necessário a base, que é fraca. Por isso, poucos chegam longe, como o Isaquias e o Erlon (Souza, também medalhista em 2016).

O motorista conheceu Isaquias ainda criança, quando treinavam no mesmo time.

— Não treinamos juntos na seleção por causa da idade dele (23 anos). Mas ele treinava conosco porque era da base, entrava de penetra e dava trabalho. Não gostávamos dele junto, era bom (risos). Ele foi criado no pódio.

Ex-atleta vende os materiais e distribui as medalhas
Edvaldo Santos trabalha em uma empresa na Baixada Fluminense
Foto: Fernando Lemos / O Globo
Da canoagem, só restaram lembranças, nenhuma foto em casa e poucos materiais. Só um macacão e um abrigo da seleção, além de escassas medalhas. O restante foi doado ou vendido. Um dos seus sobrinhos até trocou medalhas por bolinhas de gude.

— Doei porque não queria lembrar do esporte. Vendi meu remo por R$ 700, mas ele custava R$ 2,5 mil. O caiaque valia US$ 7 mil, mas o meu não era profissional, só uma réplica. Comprei por R$ 2 mil e vendi por R$ 1,5 mil. Se me pediam, eu dava, não me apegava — afirma.

O sonho de voltar a remar ainda é forte. Tanto que Edvaldo fará parte de um projeto com outros ex-canoístas. A ideia é poder competir, apesar da idade, e ajudar na formação de novos atletas.

— Vou voltar em um projeto focado no Rio, com foco nas crianças. Voltar a treinar sério e conseguir uma medalha individual para o estado do Rio, vou ficar muito feliz. Aí vou largar de ser motorista e ainda estudar. Fazer faculdade. São minhas metas.
Fonte: Marjoriê Cristine/EXTRA
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