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Historiadores comparam PEC das Domésticas ao momento da libertação dos escravos.

Estudos detalham dificuldades enfrentadas por negros para trabalhar após a Abolição.
A historiografia há muito analisa as dificuldades de o negro recém-liberto pela Abolição (1888) — ou por variados tipos de alforrias concedidos antes dela — se inserir no mercado de trabalho nas principais cidades brasileiras. Dois estudos recentes da Universidade de São Paulo (USP), abrangendo os anos de 1830 a 1920, explicitam, de forma detalhada, obstáculos enfrentados por escravos, libertandos (antes da extinção da escravidão), libertos e seus descendentes na cidade que, nesta mesma época, virou o motor do capitalismo e a protagonista do fim da monarquia no Brasil (1889): São Paulo. Num tempo em que a opinião pública volta a se referir ao período da escravidão para saudar ou fazer ressalvas à PEC das Empregadas Domésticas, “olhar para o que aconteceu lá atrás pode ser muito útil”, diz o historiador Ramatis Jacino, autor de uma das pesquisas.

Ainda mais se levarmos em conta alguns dados. Segundo o IBGE, 51% da população brasileira são negros ou pardos — número que deve ser maior, já que o Censo é auto-declaratório, ou seja, o pesquisado é quem marca, no questionário, de que cor ele é. Das 7,2 milhões de pessoas no serviço doméstico no Brasil, 92% são mulheres e pelo menos 60% são negras. A avaliação bianual realizada desde 2001 pelo Instituto Ethos nas 500 maiores empresas do Brasil mostrou que, apesar de o índice estar melhorando ao longo dos anos, em 2010 apenas 5,3% dos cargos executivos e 13,2% dos de gerência eram ocupados por negros ou pardos. Se a História está sempre sendo construída à luz do presente, como olhar para trás?

No Arquivo do Estado, Jacino pesquisou dados de mais de 43 mil boletins de ocorrência (BOs), de vítimas e agressores dos mais variados delitos, registrados na cidade de São Paulo entre 1912 a 1920 — período que, para ele, retrataria as condições da primeira geração de negros nascida após a libertação. Após a Abolição, os BOs eram os únicos documentos que continham tanto a cor quanto a ocupação dos habitantes.

Lavadeiras e ‘barraqueiras’
Os dados das ocupações dos negros foram comparados aos coletados pelo Censo de 1872, o primeiro realizado em nível nacional e o único da monarquia. Chamaram a atenção de Jacino: ele não encontrou nenhum boletim de negros “vagabundos”, ou seja, sem nenhuma ocupação. Todos tinham um trabalho,uma ocupação, “ao contrário de parte da bibliografia que frisou que o negro foi dado ao ócio”. Só que eram subempregos, de pouca qualificação: carregadores, lavadores de casa, domésticas e as famosas lavadeiras...continua
Fonte: O Globo
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