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População se une em mutirão de limpeza contra assaltos e abandono. Ponte do Amapá abandonada.

Moradores do bairro Amapá, na Baixada Fluminens, cortam o mato ao longo de pista de asfalto - Custódio Coimbra / Agência O Globo
População que sofre com assaltos diários diz que foi esquecida pelas autoridades
DUQUE DE CAXIAS — O sol do meio-dia e a poeira de terra batida não intimidaram cerca de 20 homens e mulheres que, com enxadas e facões nas mãos, capinaram a saída da ponte da Estrada do Amapá, na divisa entre Duque de Caxias e Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Moradores do bairro que levam o nome da via, eles se reuniram na segunda-feira para fazer o que deveria ser atribuição dos dois munícipios: limpar a área que está sendo usada como esconderijo por bandidos que assaltam ônibus.

O cenário é de abandono. No lado de Belford Roxo, o asfalto, esburacado e antigo, fica escondido sob a terra. Iluminação, pode-se dizer que não tem. Em um percurso de 200 metros, apenas um poste funciona. Para piorar, uma curva fechada, que obriga os motoristas a diminuírem a velocidade, foi tomada pelo matagal e virou área de descarte de lixo e até carcaças de animais. Somente após a travessia da ponte, em Duque de Caxias, é que a estrada fica mais limpa, permitindo a visão dos veículos que trafegam na via. Diante desse cenário, há cerca de um mês criminosos vinham agindo livremente na pista.

— Eles assaltaram uma vez e viram que era fácil. Agora, estão fazendo todos os dias. Os bandidos abordam o ônibus bem na curva, roubam todos os passageiros e o cobrador, depois fogem. Como a vegetação é bem alta, eles não precisam nem ficar agachados. Às vezes, estão de carro ou moto — conta uma moradora, identificada como Andréia, que vive no bairro Amapá há 12 anos.

Para chamar atenção, os moradores do bairro fecharam, na última sexta-feira, o Arco Metropolitano do Rio para protestar contra a falta de segurança e o descaso das prefeituras. A manifestação teve resultado, mas não efetivo, de acordo com o grupo. Um carro do 15º BPM (Caxias) chegou a passar a noite fazendo ronda no local, mas, no dia seguinte, não havia mais policiamento. Como a população não teve o seu pedido atendido, um grupo decidiu agir, limpando a estrada.

Encontro marcado com a violência
RI Rio de janeiro (RJ) 07/08/2017. Mutirão de limpesa contra a violência. Moradores do bairro Amapá, em Caxias, próximo ao Arco Metropolitano cortam o mato ao longo de pista de asfalto. Local de assalto a ônibus. Foto Custodio Coimbra - Custódio Coimbra / Agência O Globo
Os assaltos são frequentes, acontecem mais de uma vez ao dia; pela manhã, entre 4h30m e 7h30m, e, à noite, entre 21h e meia-noite. A facilidade dos roubos é até motivo de piada entre os criminosos na hora de anunciar o assalto, segundo uma moradora que não quis se identificar:

— Os bandidos são abusados, eles assaltam de manhã e já avisam que vão voltar de novo à noite! Eles não levam nem o Rio Card, que é para ter certeza que o trabalhador vai pegar o ônibus para voltar para casa.

Por medida de segurança, moradores do bairro criaram um grupo no Whatsapp para informar quando há assalto. Foi por meio de mensagens que a população marcou o mutirão:

— Você se imagina moranado num lugar onde só tem uma entrada e uma saída? Estamos à mercê da violência. Meu filho está tendo que ir para a escola sem celular para não ser assaltado. Passo o dia sem falar com ele, sem saber de nada. É aterrorizante — conta a moradora.
BANDO ESTARIA USANDO ATÉ FUZIL
Para chegar ao bairro, é necessário passar pela ponte onde acontecem os assaltos, ou pegar o Arco Metropolitano — um percurso aproximadamente 20km mais longo. Além disso, apenas uma linha de ônibus circula no bairro, segundo a população. O 449 é o único alvo dos roubos aos coletivos. Um motorista, que não quis se identificar, disse que foi assaltado pela primeira vez, após 30 anos de profissão:

— Aconteceu por volta das 5h. Eles aproveitam que a gente precisa desacelerar na curva. É um grupo que está armado com fuzil e tudo, sai do matagal, aponta a arma para a gente, e nos roubam ali mesmo.

Apesar desse tipo de crime só ter aumentado há pouco mais de um mês, a situação na região já é antiga e foi alvo de diversas reclamações às prefeituras. Em fevereiro deste ano, o prefeito de Caxias, Washington Reis, prometeu que começaria em março uma série de obras para melhorar as condições do bairro. No entanto, até o mutirão ser feito, os moradores não tinham visto as melhorias prometidas.

Procurada, a prefeitura da cidade informou que iniciou uma operação chamada "Tapa Buraco" para atender as demandas da região. Segundo o executivo, uma equipe técnica vai fazer vistorias para mapear as necessidades da área. Já a prefeitura de Belford Roxo anunciou que também vai levar uma equipe ao local para fazer o restante da limpeza e o trabalho de capina. O órgão prometeu ainda realizar melhorias no sistema de iluminação, além de obras de pavimentação e saneamento básico.

A Polícia Militar disponibilizou o telefone (21) 3777-7975, do 15º BPM (Caxias), para os moradores encaminharem as denúncias.
* Estagiária sob supervisão de Leila Youssef/O GLOBO
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