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Moradora de Belford Roxo chora ao descobrir que o marido desaparecido tinha morrido em um hospital e foi enterrado como solteiro e sem filhos.

Se na Literatura toda história tem um ponto final, a vida segue a arte. Para milhares de famílias, que há anos buscavam pistas de parentes desaparecidos, a descoberta de paradeiros alivia e põe fim a uma sensação de vazio. Na contramão dos sumiços sem "rastros", o Programa de Identificação e Localização de Desaparecidos (PLID), do Ministério Público, busca soluções para parte dos mais de 91 mil casos registrados no Rio nos últimos 22 anos. Desde 2009, de 6.819 comunicações cadastradas, mais de 1,4 mil foram solucionadas.

A cada conclusão de quebra-cabeça, uma estatística ganha identidade e dá esperança a quem vive uma luta sem capítulo final. Na tarde do dia 12 de abril de 2007, o pedreiro Rogério Treviso se despediu das filhas, pediu para a irmã "olhar" as crianças, disse à esposa que voltava mais tarde, após um ‘bico’. Nos últimos seis anos, esta cena perdurou na mente de Luciana Ferreira como uma reprise sem fim.

“Ele já havia sumido outra vez. Mas achei que algo tinha acontecido e fui à Delegacia de Homicídios da Baixada registrar o caso. Rodamos IML, hospitais, abrigos. Pensamos que por ele estar desempregado poderia ter fugido da realidade”, lembra Luciana, emocionada, ao falar do marido.

Após meses, a moradora de Belford Roxo pensou em mudar de endereço e refazer a vida. "Mas se me mudasse ele não teria como nos achar. Esperava dia e noite pela sua volta. Apesar dos sumiços, ele era ótimo pai e marido. Todo mundo tem problema e às vezes enfrenta depressão. Para quem é humilde, isso é mais complicado".

Mas a história de Rogério foi além de um sumiço programado. O paradeiro só foi descoberto com a entrada do PLID no caso, no final de julho deste ano. No dia 4 de agosto, a dona de casa foi informada que o marido, sem documentos, foi internado em novembro de 2009 no Hospital Getúlio Vargas, com tuberculose, e morreu no mesmo dia. No IML, Rogério foi identificado pela digital, mas na certidão de óbito consta que ele era solteiro e não tinha filhos. O casal tinha duas meninas registradas. Enterrado em Santa Cruz, nenhum dos familiares foi comunicado, já que os dados do IML e da delegacia não foram cruzados.

"Se não fosse o MP, estaria esperando ele entrar em casa até hoje. Ele foi enterrado como qualquer coisa. Minhas filhas cresceram perguntado pelo pai. A esperança de tê-lo novamente foi embora, mas pelo menos levou junto a ilusão de uma volta que nunca mais vai acontecer”, concluiu Luciana.

Mas não são só casos de pessoas que já faleceram que ganham um ‘ponto final’ no PLID. É comum o encontro de desaparecidos em abrigos, hospitais, presídios, na rua ou até mesmo vivendo com outras famílias. Uns pelos simples cruzamento de dados de vários órgãos, outros com novos exames e muitas tentativas de confronto de resultados.

“Entre estes casos totais, há muitos com esgotamento, onde o material genético ou digitais da vítima não foram colhidos na hora da morte, o prazo de exumação do corpo expirou e os ossos não foram guardados adequadamente. A chance desse cadáver ser identificado é muito remota. Nosso trabalho é esgotar todas as possibilidades, como um trabalho de formiguinha”, explicou o promotor Pedro Borges, coordenador e idealizador do PLID.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o Instituto Médico Legal (IML) não tem como procedimento comunicar mortes a familiares. Para que a informação seja fornecida, é necessário que os parentes procurem o IML. Além disso, esclarece que, em 2007, o sistema não era informatizado. Sobre os erros na certidão de óbito, enfatiza que os dados do IFP poderiam não estar atualizados.
Fonte: O Dia
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